Gripe aviária: suspensão de exportações pode custar US$ 1 bi ao Brasil
Suspensão das exportações de frango por China, UE e Argentina após caso de gripe aviária no RS pode gerar prejuízo de US$ 1 bilhão ao setor.

O setor avícola brasileiro enfrenta um cenário desafiador após a confirmação do primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial no Rio Grande do Sul, anunciado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) na última semana. A notificação desencadeou uma reação imediata dos principais importadores de carne de frango do país, com suspensões que podem gerar um impacto econômico estimado em US$ 1 bilhão.
O Brasil, maior exportador mundial de carne de frango, responsável por 35% do comércio global do produto, viu seu status sanitário privilegiado ser comprometido após anos como território livre da doença em criações comerciais. Especialistas do setor indicam que a recuperação desse status dependerá da eficácia das medidas de contenção implementadas e da capacidade de negociação com os parceiros comerciais.
Países que suspenderam importações
China, União Europeia e Argentina foram os primeiros a anunciar a suspensão total das importações de produtos avícolas brasileiros. Esses mercados representam aproximadamente 40% do volume total exportado pelo Brasil, o que explica a magnitude do impacto econômico previsto.
Japão, Arábia Saudita, Emirados Árabes e Filipinas adotaram uma abordagem mais seletiva, implementando restrições regionalizadas que afetam apenas produtos oriundos do Rio Grande do Sul. Essa diferenciação é considerada positiva pelo setor, que busca evitar um embargo generalizado à produção nacional.
"A regionalização das restrições é fundamental para minimizar os danos econômicos. O Brasil possui uma produção geograficamente diversificada, com estados como Paraná, Santa Catarina e São Paulo mantendo elevados padrões sanitários", afirma Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
O Mapa emitiu nota técnica esclarecendo que a suspensão não se aplica a todo o território nacional, contradizendo informações iniciais que circularam no mercado. Segundo o órgão, as negociações com os parceiros comerciais estão em andamento para garantir que as restrições sejam proporcionais ao risco sanitário real.
Estratégia do Ministério da Agricultura
O secretário de Defesa Agropecuária do Mapa, Carlos Goulart, indicou que o governo federal adotará uma estratégia "país a país" para reverter os embargos. "Cada mercado possui protocolos sanitários específicos e exigências particulares. Estamos trabalhando com evidências científicas para demonstrar que o caso está isolado e sob controle", explicou.
A abordagem inclui o compartilhamento de informações detalhadas sobre as medidas de contenção implementadas, resultados de testes laboratoriais e o mapeamento epidemiológico da região afetada. O objetivo é demonstrar transparência e eficiência no controle da situação.
O Mapa também intensificou o diálogo com a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), entidade que estabelece os parâmetros internacionais para o comércio de produtos de origem animal. O reconhecimento pela OMSA da eficácia das medidas brasileiras é considerado crucial para a retomada das exportações.
Medidas de contenção adotadas
O governo do Rio Grande do Sul, em coordenação com o Mapa, implementou barreiras sanitárias em Montenegro, município onde foi identificado o foco da doença. A medida visa controlar o trânsito de animais e produtos avícolas na região, impedindo a disseminação do vírus para outras áreas produtoras.
Em Minas Gerais, autoridades sanitárias determinaram o descarte preventivo de 450 toneladas de ovos férteis provenientes do Rio Grande do Sul. A ação, embora represente uma perda econômica imediata, é considerada necessária para garantir a segurança sanitária da avicultura mineira.
O sistema de rastreamento de produtos avícolas foi intensificado em todo o território nacional. "Todos os lotes de ovos e aves da granja afetada foram identificados e estão sendo monitorados. Não há risco de produtos contaminados chegarem ao consumidor", garantiu José Carlos Pinheiro, coordenador do programa nacional de sanidade avícola.
Equipes de vigilância epidemiológica foram mobilizadas para realizar testes em propriedades num raio de 10 quilômetros do foco identificado, seguindo protocolos internacionais. Até o momento, não foram detectados novos casos, o que reforça a tese de isolamento do surto.
Impactos no mercado interno
O mercado interno de produtos avícolas já começa a sentir os efeitos da crise sanitária. Analistas preveem uma pressão de baixa nos preços do frango e dos ovos nas próximas semanas, devido ao redirecionamento da produção que seria exportada para o mercado doméstico.
"A elasticidade do mercado será testada. O consumidor brasileiro poderá se beneficiar temporariamente de preços mais baixos, mas o setor produtivo enfrentará margens reduzidas", avalia Fernando Pereira, economista especializado em agronegócio.
Um efeito colateral inesperado é o impacto no mercado de bovinos. Com a expectativa de maior oferta de proteína de frango a preços competitivos, a demanda por carne bovina pode ser afetada, pressionando também os preços do boi gordo. Produtores de gado já manifestam preocupação com essa perspectiva.
As cooperativas e associações de produtores estão mobilizadas para minimizar os danos econômicos, buscando alternativas de mercado e negociando com a indústria processadora condições que permitam atravessar o período de restrições com o menor impacto possível na rentabilidade do setor.
O Brasil mantinha, até a semana passada, o status de país livre de gripe aviária em criações comerciais, o que representava uma vantagem competitiva significativa no mercado internacional. A rápida resposta das autoridades sanitárias será determinante para a recuperação desse status e para a minimização dos danos econômicos ao setor avícola nacional.
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