Etanol com captura de carbono impulsiona o agro
Brasil pode capturar até 40 milhões de toneladas de CO₂ ao ano com o uso de BECCS na produção de etanol, gerando até US$ 3,8 bilhões em créditos de carbono, segundo a CCS Brasil.

Com a produção de mais de 43 bilhões de litros de biocombustíveis em 2023, o Brasil atingiu seu maior volume histórico e consolidou sua posição como segundo maior produtor global. Do total, 35,4 bilhões de litros foram de etanol, um aumento de quase 80 milhões de litros em relação ao recorde anterior de 2019, segundo o Ministério de Minas e Energia. O desempenho reforça o potencial do país para liderar soluções em descarbonização com base na bioenergia.
O que é BECCS e como funciona
A tecnologia BECCS (bioenergia com captura e armazenamento de carbono) consiste em gerar energia ou combustível a partir da biomassa e capturar o CO₂ emitido no processo. O gás é separado, comprimido e transportado para armazenamento permanente, impedindo que retorne à atmosfera. O método é considerado carbono negativo por remover CO₂ do ciclo atmosférico.
“O Brasil possui um dos maiores potenciais para BECCS do mundo, dada sua tradição no mercado de etanol e sua capacidade ainda pouco explorada para o biogás”, afirma Isabela Morbach, advogada e cofundadora da CCS Brasil.
A CCS Brasil é uma associação voltada à promoção da captura e armazenamento de carbono no Brasil, incentivando a cooperação entre governo, setor produtivo, universidades e sociedade para o desenvolvimento do setor.
Potencial econômico e distribuição regional
Estudo da CCS Brasil mostra que o país pode capturar cerca de 200 milhões de toneladas de CO₂ anualmente. Desse total, 40 milhões de toneladas seriam viáveis via BECCS, com potencial de receita entre US$ 2,7 bilhões e US$ 3,8 bilhões por ano, conforme o preço do crédito de carbono.
As regiões Sudeste e Centro-Oeste concentram 87% da bioenergia nacional. São Paulo lidera com capacidade para capturar mais de 15 milhões de toneladas de CO₂, das quais 60% provêm de usinas de etanol.
A captura de CO₂ no BECCS apresenta menor custo comparado a outros métodos. A remoção de uma tonelada de carbono varia entre US$ 20 e US$ 400, enquanto a captura direta do ar (DACCS) pode chegar a US$ 1.000 por tonelada, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA).
“A indústria de biocombustíveis é a que possui maior potencial de retorno com CCS no Brasil. A estrutura existente facilita a implementação e os créditos de remoção possuem maior valor de mercado”, explica Morbach.
Projetos piloto e perspectivas para o setor
Um dos principais projetos em curso é da FS Bioenergia, que está implantando uma planta de etanol com BECCS em Lucas do Rio Verde (MT). A unidade deve evitar a emissão de 423 mil toneladas de CO₂ por ano e, no futuro, permitir a remoção de até 1,8 milhão de toneladas anuais nas demais instalações da empresa.
A IEA estima que o BECCS já é responsável por capturar 2 milhões de toneladas de carbono ao ano, com projeção de atingir 190 milhões até 2030. O potencial brasileiro, especialmente com cana-de-açúcar e milho, se destaca pela alta pureza do CO₂ emitido, com concentração de até 98% e captura de 320 kg de carbono por
De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o Brasil possui 24% de bioenergia em sua matriz, ante 9% na média global. O órgão informa que o BECCS representa uma via estratégica para atrair investimentos e ampliar a inserção do país no mercado internacional de carbono. O setor aguarda definição regulatória para estimular novos projetos.
COMENTÁRIOS