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,20/05/2025

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Oferta elevada mantém pressão de baixa sobre preços do milho no Brasil

Preços do milho e da soja seguem pressionados no Brasil devido à oferta elevada, avanço da colheita argentina e perspectivas de safra normal nos EUA.


Oferta elevada mantém pressão de baixa sobre preços do milho no Brasil

O mercado brasileiro de grãos enfrenta um cenário desafiador neste início de semana, com pressão persistente sobre os preços do milho e comportamento enfraquecido nas cotações da soja. Dados compilados por consultorias especializadas apontam que a combinação de oferta abundante no mercado doméstico, avanço da colheita na Argentina e perspectivas de normalidade para a safra norte-americana tem criado um ambiente de cautela entre compradores e vendedores.

Produtores brasileiros, especialmente nas regiões Centro-Oeste e Sul, relatam dificuldades para fechar negócios com preços que garantam margens satisfatórias. A situação tem levado muitos agricultores a postergar vendas na expectativa de uma recuperação das cotações, estratégia que especialistas consideram arriscada no atual contexto de mercado.

Milho em queda: oferta supera demanda

O cereal amarelo registra pressão consistente de baixa nas principais praças de comercialização do país. Levantamento realizado pela consultoria AgRural indica que o preço médio da saca de 60 kg recuou 3,5% na última semana, acumulando queda de 12% no último mês.

A oferta crescente de milho no mercado brasileiro é apontada como principal fator para a tendência de baixa. A colheita da segunda safra, que representa cerca de 75% da produção nacional, avança em ritmo acelerado nas principais regiões produtoras, aumentando a disponibilidade do cereal.

"O volume colhido tem superado as expectativas iniciais em termos de produtividade, especialmente no Mato Grosso e Paraná, o que amplia ainda mais a pressão sobre os preços", explica Carlos Fernandes, analista de mercado da AgRural. Segundo ele, as condições climáticas favoráveis durante o desenvolvimento da cultura contribuíram para o bom desempenho das lavouras.

O comportamento cauteloso do mercado comprador também influencia a formação de preços. Indústrias de ração animal e exportadores têm adotado estratégia de compras pontuais, evitando a formação de estoques expressivos diante das perspectivas de oferta abundante nos próximos meses.

Dados do Ministério da Agricultura indicam que os estoques de passagem de milho devem crescer 15% em relação à safra anterior, atingindo o maior volume dos últimos cinco anos. Esse cenário reforça a tendência de manutenção da pressão baixista sobre os preços no curto e médio prazo.

Soja: volatilidade em Chicago reflete no Brasil

O mercado da soja apresenta comportamento similar, com preços enfraquecidos e ritmo lento de negociações. Na Bolsa de Chicago (CBOT), referência mundial para a commodity, as cotações fecharam mistas na última sexta-feira, após uma semana de volatilidade que deixou produtores e traders em compasso de espera.

O avanço da colheita na Argentina tem exercido pressão adicional sobre os preços internacionais da oleaginosa. O país sul-americano, terceiro maior produtor mundial, deve colher cerca de 50 milhões de toneladas na safra atual, volume 20% superior ao da temporada anterior, que foi severamente afetada pela seca.

"A entrada da safra argentina no mercado internacional sempre impacta as cotações, pois representa um aumento significativo na oferta global em curto período", analisa Marcos Araújo, especialista em mercado de grãos da consultoria Safras & Mercado. Ele ressalta que o Brasil compete diretamente com a Argentina nas exportações para a China, principal destino da soja brasileira.

No mercado doméstico, as negociações seguem em ritmo lento, com produtores relutantes em aceitar os preços atuais. Levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostra que o indicador da soja Paranaguá recuou 2,8% na última semana, atingindo o menor patamar desde fevereiro.

A desvalorização do dólar frente ao real nas últimas semanas também contribui para a pressão sobre os preços da soja no mercado brasileiro, uma vez que reduz a competitividade do produto nacional no mercado externo e diminui a receita em moeda local dos exportadores.

Perspectivas para a safra 2025/26

Apesar do cenário atual desafiador, as projeções para a próxima safra de grãos no Brasil apresentam sinais positivos, especialmente para milho e sorgo no Mato Grosso. Dados preliminares do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) indicam que a área plantada com milho no estado deve crescer 3% na safra 2025/26.

O sorgo, cultura que vem ganhando espaço como alternativa ao milho em regiões com maior restrição hídrica, também apresenta perspectivas favoráveis. A expectativa é de aumento de 5% na área cultivada, impulsionado pela crescente demanda do setor de ração animal e pela adaptabilidade da cultura a condições climáticas adversas.

Nos Estados Unidos, fundos de investimento estão apostando em uma safra normal para a temporada 2025, após os problemas climáticos enfrentados em algumas regiões produtoras no ciclo anterior. "Podemos adiantar que fundos estão apostando em uma safra normal nos EUA, o que tem contribuído para a pressão sobre os preços futuros", afirma João Henrique Silva, analista de mercado.

Fatores climáticos, no entanto, ainda representam uma incógnita para o mercado. O fenômeno La Niña, que deve se estabelecer no segundo semestre de 2025, pode afetar o regime de chuvas nas principais regiões produtoras das Américas, com potencial impacto sobre a produtividade das lavouras.

Recomendações de especialistas

Diante do cenário atual, consultorias especializadas têm recomendado cautela aos produtores brasileiros. A orientação predominante é para a adoção de estratégias escalonadas de comercialização, evitando tanto a venda total da produção em momentos de baixa quanto a retenção excessiva na expectativa de recuperação significativa dos preços.

"O produtor precisa entender que estamos em um ciclo de preços mais baixos, após anos de cotações excepcionalmente elevadas. A gestão eficiente de custos e a comercialização estratégica serão determinantes para a manutenção da rentabilidade", orienta Paulo Molinari, consultor de mercado da Safras & Mercado.

Para aqueles que ainda não comercializaram parte significativa da safra atual, a recomendação é aproveitar momentos pontuais de recuperação para realizar vendas parciais, garantindo fluxo de caixa para honrar compromissos financeiros e custear a próxima safra.

A gestão de riscos ganha importância adicional nesse contexto. Instrumentos como contratos futuros, opções e barter (troca de produção por insumos) são apontados como alternativas para proteger margens e reduzir a exposição à volatilidade do mercado.

As perspectivas para os próximos meses indicam manutenção da pressão sobre os preços de milho e soja, com possibilidade de recuperação apenas no último trimestre de 2025, quando o mercado começará a precificar os riscos climáticos para a safra seguinte e os estoques globais estarão em processo de redução sazonal.




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