Retenção de talentos no agro: competências essenciais de liderança
Especialista em gestão rural revela como práticas eficazes de liderança reduzem a rotatividade e aumentam a produtividade nas propriedades agrícolas brasileiras. Liderança no campo: estratégias para manter equipes engajadas

O desafio de manter equipes engajadas e reduzir a alta rotatividade no campo tem se tornado uma preocupação estratégica para produtores rurais de diferentes portes.
Em um cenário onde a retenção de mão de obra qualificada representa um dos maiores desafios para o agronegócio brasileiro, a liderança eficaz emerge como fator determinante para a sustentabilidade das operações rurais. Segundo estudo publicado na Revista E&S em junho de 2024, por Hilarina Dias de Souza e Alexandre Barreto de Almeida, o Brasil é atualmente considerado o país com o maior índice de rotatividade do mundo, atingindo a média de 46,59% em 2022 e sofrendo um aumento de 56% em 2023.
Multidisciplinaridade a serviço do agro
Leandro Trindade, técnico agrícola, médico veterinário e pós-graduado em psicologia do trabalho e gestão estratégica de pessoas, traz uma perspectiva multidisciplinar sobre o tema. Em entrevista exclusiva, o especialista analisa como a liderança influencia a retenção de mão de obra nas propriedades.
"A rotatividade de pessoal no campo tem custos diretos e indiretos que muitos produtores não contabilizam adequadamente", explica Trindade. Segundo o especialista, cada desligamento acarreta custos com recrutamento e treinamento, além da perda de conhecimento operacional específico da propriedade.
Fatores que impulsionam a rotatividade
A pesquisa de Souza e Almeida (2024) identifica que, além de questões salariais, fatores como reconhecimento, ambiente de trabalho e principalmente o estilo de liderança exercem influência decisiva na permanência dos colaboradores. Propriedades com líderes que adotam comunicação clara, feedback construtivo e valorização das equipes apresentam índices significativamente menores de rotatividade.
"Muitos gestores rurais ainda seguem modelos de liderança ultrapassados, baseados em autoridade e comando, ignorando aspectos motivacionais e de desenvolvimento humano", destaca Trindade.
Estratégias práticas para engajamento
Hugo Godinho, CEO da Dialog, empresa especializada em comunicação interna, aponta em estudo realizado entre janeiro e agosto de 2024 que "as empresas que investem em estratégias inteligentes de comunicação interna têm um aumento real na retenção de talentos". A pesquisa, que envolveu mais de 156 mil profissionais, revelou que um aumento de 10% no engajamento pode reduzir a rotatividade em até 5,72% no agronegócio.
Entre as recomendações de Godinho, destacam-se programas de desenvolvimento profissional, metas claras e alcançáveis, e canais efetivos de comunicação. João Gino, CTO da Dialog, complementa que "a plataforma da Dialog, com base em machine learning, identifica com antecedência áreas de risco, possibilitando que os gestores tomem ações preventivas".
Trindade enfatiza que o investimento em capacitação de líderes rurais gera excelentes retornos para propriedades que buscam estabilidade operacional. "Quando o colaborador se sente parte do processo produtivo e percebe oportunidades de crescimento, a tendência de permanência aumenta consideravelmente", afirma.
Impacto na produtividade e resultados
A correlação entre engajamento de equipes e resultados produtivos é evidente no campo. Propriedades com baixos índices de rotatividade tendem a apresentar maior eficiência operacional, menos acidentes de trabalho e melhor aproveitamento de recursos.
"Equipes estáveis desenvolvem conhecimento aprofundado sobre as particularidades da propriedade, o que resulta em tomadas de decisão mais assertivas no dia a dia", explica o especialista. Essa estabilidade se traduz em ganhos de produtividade que frequentemente superam os investimentos realizados em programas de engajamento.
Tendências para o futuro da gestão rural
As tendências futuras para a gestão de pessoas no agronegócio apontam para novos desafios. A crescente digitalização das operações rurais, junto com a chegada de novas gerações ao mercado de trabalho, exigirá estilos de liderança adaptáveis e focados no desenvolvimento humano.
"O produtor rural que não desenvolver competências de liderança enfrentará dificuldades crescentes para manter equipes qualificadas", conclui Trindade, ressaltando que o tema deve ser tratado como prioridade estratégica, e não como mera questão operacional.
Especialistas como Trindade e os pesquisadores da Revista E&S contribuem para a evolução das práticas de gestão no campo, trazendo conhecimentos de diversas áreas para enfrentar um dos maiores desafios do agronegócio contemporâneo: a formação e retenção de equipes engajadas e produtivas.
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