A intensificação sustentável da pecuária brasileira ganhou novo respaldo técnico com os resultados de uma pesquisa conduzida pela Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP). O estudo demonstrou que sistemas silvipastoris — que integram árvores e pastagem — conseguem neutralizar as emissões de metano entérico equivalentes a mais de dois bovinos adultos por hectare ao ano.

Segundo os pesquisadores, a análise considerou apenas o carbono fixado nos troncos das árvores, especificamente eucaliptos destinados à produção de madeira para móveis. Mesmo assim, o balanço de emissões foi expressivamente negativo: –14,28 megagramas de CO₂ equivalente por hectare ao ano. “Com isso, o sistema compensa completamente as emissões de metano e ainda gera saldo ambiental positivo”, afirmou o pesquisador José Ricardo Pezzopane.

A taxa de lotação observada foi de 3,01 unidades animais (UA) por hectare — valor três vezes superior à média brasileira, estimada em 1 UA/ha. Isso indica que é possível alcançar alta produtividade na pecuária sem comprometer as metas de mitigação de gases de efeito estufa.

Além do sequestro de carbono, o sistema silvipastoril oferece benefícios adicionais à produção. As árvores proporcionam sombreamento natural, reduzindo o estresse térmico dos animais e contribuindo para o bem-estar e desempenho zootécnico. Do ponto de vista climático, a presença arbórea atua como estratégia de adaptação às variações de temperatura, contribuindo para maior resiliência das pastagens.

O experimento utilizou capim-piatã em consórcio com fileiras de eucalipto e comparou o desempenho do sistema integrado a áreas de pasto convencional, com manejo intensivo a pleno sol. As estimativas seguiram as metodologias recomendadas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), tanto para a medição das emissões de metano quanto para o cálculo do carbono sequestrado.

A tecnologia apresentada está alinhada a diversos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), como o ODS 2 (fome zero e agricultura sustentável), ODS 12 (produção e consumo responsáveis) e ODS 13 (ação contra a mudança global do clima). O modelo também oferece oportunidades comerciais para os pecuaristas, por meio da certificação de carne com baixa pegada de carbono, como o selo Neutral Carbon Brazilian Beef.

Na prática, os sistemas silvipastoris com eucalipto representam uma alternativa viável para aliar produtividade, sustentabilidade e ganhos econômicos. A pesquisa reforça o potencial da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) como estratégia eficaz para tornar a pecuária brasileira mais competitiva e ambientalmente responsável.