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,04/06/2025

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Própolis de abelha amazônica cicatriza feridas com eficácia

Própolis da abelha-canudo, nativa da Amazônia, mostrou ação cicatrizante superior à de pomadas comerciais, segundo estudo da Embrapa e UFPA.


Própolis de abelha amazônica cicatriza feridas com eficácia Fotos: Vinícius Braga

Um estudo conduzido por pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental (PA) e da Universidade Federal do Pará (UFPA) demonstrou o alto potencial cicatrizante e anti-inflamatório da própolis produzida pela abelha-canudo (Scaptotrigona aff. postica), espécie sem ferrão nativa da Amazônia. Os testes laboratoriais indicaram que o creme desenvolvido com essa substância apresentou desempenho equivalente ou superior ao de pomadas cicatrizantes disponíveis no mercado.

Os experimentos foram realizados com cobaias, e os resultados apontaram não apenas uma recuperação mais rápida das feridas, mas também menor resposta inflamatória nos tecidos tratados com o creme à base da própolis. A pesquisa reforça o valor de bioprodutos derivados da biodiversidade amazônica e aponta caminhos para o desenvolvimento de novos fármacos naturais.

Compostos bioativos em alta concentração

A própolis utilizada na pesquisa foi obtida de colmeias mantidas em cultivo de açaí (Euterpe oleracea), o que influenciou diretamente sua composição. De acordo com o professor Nilton Muto, da UFPA, um dos autores do artigo, o ambiente de monocultura do açaizeiro contribui para uma maior uniformidade nos compostos presentes na substância produzida pelas abelhas.

As análises químicas revelaram que a própolis da abelha-canudo apresentou concentrações de compostos fenólicos mais de 20 vezes superiores ao mínimo exigido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para classificação de qualidade. Já os flavonoides ficaram quase quatro vezes acima do padrão mínimo.

A presença desses compostos bioativos está diretamente relacionada à ação cicatrizante observada nos testes. Fibras colágenas tipo 1 e tipo 3, essenciais para regeneração tecidual, foram mais rapidamente recuperadas nos animais tratados com o creme à base da própolis.

Abelha-canudo é destaque entre as nativas da região

Ao contrário de outras espécies amazônicas, como a uruçu-amarela e a uruçu-cinzenta, a abelha-canudo não utiliza barro na produção de sua própolis. Isso resulta em um produto mais puro e com menor risco de contaminação por microrganismos ou resíduos do solo. Segundo o pesquisador da Embrapa Daniel Santiago, isso representa uma vantagem significativa para uso farmacêutico e cosmético.

A espécie também vem sendo estudada por sua eficiência na polinização do açaí, devido ao seu porte reduzido e à capacidade de visitar tanto flores femininas quanto masculinas. Como resposta à demanda crescente por produtividade, produtores de açaí na região Norte têm adotado a meliponicultura para intensificar a polinização de suas lavouras.

Integração entre bioprodutos e cadeia do açaí

A pesquisa que resultou na descoberta das propriedades da própolis da abelha-canudo teve início em estudos voltados à polinização do açaizeiro. As caixas com abelhas foram instaladas em um raio de 450 metros de plantios de açaí, e observou-se que os voos das abelhas se concentravam em até 300 metros, indicando influência direta do ambiente na composição da própolis.

Essa integração entre o manejo de abelhas sem ferrão e o cultivo do açaí reforça o potencial da meliponicultura como atividade complementar na cadeia produtiva. Além do própolis, produtos como pólen também estão sendo estudados pela sua riqueza nutricional. Já o mel da abelha-canudo, embora com qualidade promissora, ainda não é produzido em volume atrativo para comercialização.

Biodiversidade amazônica como fonte de inovação

O estudo foi publicado na revista científica Molecules sob o título Healing Activity of Propolis of Stingless Bee (Scaptotrigona aff. postica), Reared in Monoculture of Açaí (Euterpe oleracea). A iniciativa integra o projeto Agrobio, financiado pelo Fundo Amazônia do BNDES, e faz parte das linhas de pesquisa da Embrapa Amazônia Oriental em parceria com a UFPA.

No Centro de Valorização de Compostos Bioativos da Amazônia, localizado no Parque de Ciência e Tecnologia Guamá, pesquisadores e alunos desenvolvem estudos sobre os potenciais de ingredientes naturais da floresta. Além de fornecer subsídios científicos para novos produtos, a iniciativa apoia práticas sustentáveis e gera valor agregado a atividades tradicionais da região.

O grupo de autores do artigo inclui, além de Muto e Santiago, os pesquisadores Sara R. L. Ferreira, Suzanne A. Teixeira, Gabriella O. Lima, Jhennifer N. R. S. de Castro, Luís E. O. Teixeira, Carlos A. R. Barros, Moisés Hamoy e Veronica R. L. O. Bahia.




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