Agricultura avança com inteligência e gestão integrada
O gerente técnico do IFAG, Leonardo Machado, destacou que a transformação da agricultura exige profissionais qualificados, gestão eficiente de custos e atenção ao cenário geopolítico, fatores essenciais para a rentabilidade no campo.

O conhecimento técnico aliado à capacidade de gestão tem se consolidado como diferencial competitivo no campo. Durante evento promovido pela Confaeab (Confederação das Federações de Engenheiros Agrônomos do Brasil), realizado em Goiânia, Leonardo Machado, gerente técnico do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (IFAG), palestrou sobre a importância da profissão de engenheiro agrônomo e apresentou um histórico dos quatro grandes momentos de transformação da agricultura brasileira.
Segundo Machado, a evolução do setor pode ser dividida em fases distintas. O primeiro momento remonta ao século XIX, período em que a produção tinha caráter de subsistência e pouca preocupação com produtividade. “Eram os vizinhos trocando produtos. Ali não se tinha muita preocupação com altas produtividades, mas, com a subsistência”, relatou.
Com a Revolução Verde, ocorreu uma transformação significativa. A introdução de insumos sintéticos, sementes melhoradas e máquinas impulsionou ganhos de produtividade e consolidou a lógica de produzir mais em menos área. Posteriormente, emergiram sistemas integrados, como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que ampliaram a eficiência do uso da terra. Hoje, conforme observou Machado, o setor passa por uma fase marcada pela adoção da agricultura digital. “Agora a gente passa por uma revolução de uma agricultura mais inteligente, preocupada com internet das coisas, big data, utilização de drones”, afirmou.
A inteligência artificial e o avanço de soluções tecnológicas têm desafiado os agrônomos recém-formados a buscar qualificação permanente. “A inteligência artificial é uma realidade, não tem como voltar atrás. Cada vez mais ela vai ficar presente na nossa realidade, tanto pessoal quanto produtiva”, ponderou.
Para apoiar o desenvolvimento profissional, o Sistema FAEG/SENAR oferece cursos de capacitação em gestão, tecnologias digitais e práticas de manejo. Machado reforçou que a atualização técnica deve ser prioridade para quem atua no campo. “O profissional precisa se capacitar e trazer essas ferramentas como auxílio ao produtor na sua área produtiva e na gestão, para tornar a empresa rural mais rentável e em processo de crescimento”, explicou.
O IFAG, vinculado ao Sistema FAEG, tem ampliado o acesso a informações estratégicas. Transformado recentemente em Instituto de Ciência e Tecnologia, o órgão passou a promover também a geração de tecnologias e experimentações aplicadas. “Lá no IFAG a gente proporciona dados, análise de mercado, todas as informações que aquele produtor possa ter para se tornar uma atividade muito mais rentável”, comentou.
Entre as ações, destaca-se a publicação diária de boletins com cotações de soja, milho e boi, análises de mercado e informações para apoiar decisões comerciais. “Todos os dias a gente está disponibilizando as cotações de todo o estado, análise de mercado para as principais atividades produtivas”, relatou Machado. Os interessados podem se cadastrar gratuitamente no site do Sistema FAEG para receber os conteúdos.
O cenário externo também traz riscos adicionais, como tensões geopolíticas e mudanças regulatórias. O gerente técnico mencionou o impacto da guerra entre Irã e Israel sobre o preço da ureia, que subiu cerca de 25% em um curto período, além das incertezas internas relacionadas a discussões no Congresso Nacional sobre taxações e crédito rural. “A gente está em um ambiente de ameaças internacionais e internas. Não digo ameaças à nossa sobrevivência, mas ameaças à nossa economia”, apontou.
Diante dessas variáveis, Machado defendeu que a gestão financeira e o controle de custos sejam prioridades no planejamento. “O produtor precisa trabalhar mais dentro da sua porteira. A única coisa que ele tem controle é o seu custo e a sua gestão. Isso é importante demais em ambientes como este”, advertiu. Ele citou o exemplo da soja: “120 reais é bom ou ruim no preço da saca? Depende. Se tenho um custo de 80 reais, a margem é boa. Mas se pago 20 reais de arrendamento, já fica apertado”.
Apesar das pressões, o ambiente global pode trazer oportunidades, sobretudo para a proteína animal brasileira. “Quando você tem ambientes como esse, começa a ter uma demanda maior por alguns produtos. A China vem se tornando um grande consumidor de carne bovina e vem comprando muito do Brasil”, observou.
A pecuária, segundo Machado, está em fase de inversão do ciclo, com perspectiva de valorização do bezerro e do boi gordo nos próximos meses. A redução do plantel de matrizes nos últimos anos tende a restringir a oferta, pressionando os preços para cima. “A gestão fica muito mais fácil quando estamos em um momento de alta. Ninguém gerencia prejuízo, a gente gerencia lucro”, comentou.
Para atravessar esse período de transição, o gerente técnico orienta que o produtor se prepare para a entressafra e reforce o planejamento alimentar dos rebanhos. “A gente vai entrar em um período de aperto. Então, preparar e se aprimorar é fundamental para não ter dificuldades”, concluiu.
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