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,10/05/2025

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Brasil desperdiça até 50% dos alimentos produzidos

CEO da HB Pooling, Ana Miranda explica como o sistema de embalagens compartilhadas reduz perdas e melhora a logística de alimentos no Brasil.


Brasil desperdiça até 50% dos alimentos produzidos

As perdas de alimentos no Brasil podem chegar a 50% entre a colheita e a comercialização, conforme dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Para enfrentar esse problema, empresas como a HB Pooling têm apostado em soluções logísticas baseadas na sustentabilidade e na eficiência. A CEO da empresa, Ana Miranda, explica que o sistema de embalagens reutilizáveis compartilhadas — chamado de pooling — já é prática consolidada na Europa e começa a ganhar espaço no mercado brasileiro.

O pooling é um sistema de compartilhamento de embalagens entre diferentes elos da cadeia produtiva. "É como uma piscina, de onde os participantes retiram e para onde devolvem os equipamentos, que são higienizados e reintroduzidos no ciclo", explica Miranda. Em vez de cada produtor ou varejista adquirir suas próprias caixas, todos utilizam um conjunto padronizado de embalagens fornecido por uma empresa gestora.

Essa padronização reduz perdas por avarias, melhora o empilhamento durante o transporte e facilita a logística reversa, diminuindo o custo com embalagens descartáveis. A HB Pooling, fundada no Brasil há dez anos, já atua em diversos estados, especialmente nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste.

Perda x desperdício: impactos na cadeia

Segundo Miranda, há uma diferença importante entre perda e desperdício. "O desperdício é aceito como algo marginal em processos produtivos, mas a perda vai além do aceitável e compromete o resultado final", diz. No varejo brasileiro, por exemplo, as perdas chegam a 11% apenas dentro das lojas, valor considerado elevado em comparação com países desenvolvidos.

Enquanto o consumidor brasileiro desperdiça pouco, a maior parte das perdas ocorre nas etapas de pós-colheita, transporte e distribuição, evidenciando fragilidades estruturais. “Nos Estados Unidos, as perdas ocorrem mais no consumo. No Brasil, é na produção e na logística”, explica.

A diversidade de embalagens — como sacos, caixas de papelão e madeira — compromete a qualidade dos alimentos durante o transporte. “O varejista precisa montar paletes com produtos diferentes e embalagens incompatíveis, o que causa atrito, umidade excessiva e pressão inadequada sobre itens mais frágeis, como tomates e folhas”, detalha Miranda.

Além de gerar perdas físicas, esse processo eleva o custo logístico. Caminhões são subutilizados e a descarga nas lojas se torna mais lenta. Com o pooling, o transporte pode ser otimizado, permitindo, por exemplo, que um único caminhão atenda três lojas em vez de apenas uma.

Eficiência comprovada e expansão

Estudos de caso da HB Pooling indicam que o uso de embalagens compartilhadas pode reduzir as perdas em até três pontos percentuais. Além disso, clientes que adotaram o sistema conseguiram eliminar turnos inteiros em centros de distribuição, economizando mão de obra e melhorando a eficiência operacional.

O sistema também oferece ganhos para os produtores. “Com pooling, eles conseguem acessar novos mercados, inclusive em outras regiões, sem precisar investir em embalagens próprias ou arcar com o custo da reversa”, afirma.

A empresa atende tanto grandes redes nacionais como Carrefour e GPA, quanto supermercados regionais, como Imec (RS) e São Vicente (SP). A expansão para novos estados depende do interesse do varejista local, que precisa aderir ao modelo para viabilizar a instalação de centros de distribuição e higienização.

Sustentabilidade e vigilância sanitária

Cada caixa é higienizada após o uso com rigor técnico, seguindo protocolos exigidos pela Anvisa e pelo Ministério da Agricultura. "Utilizamos testes microbiológicos e químicos para garantir que não haja contaminação cruzada entre culturas ou uso de defensivos agrícolas distintos", afirma Miranda. Unidades como a de São Paulo processam até 5 mil caixas por hora.

Atualmente, o sistema já é utilizado em setores além do hortifruti, como ovos e carnes embaladas a vácuo para distribuição. A HB Pooling estuda novos casos e viabilidades técnicas para ampliar sua atuação no agronegócio.

Cultura do desperdício está em mudança

Miranda reconhece que ainda há resistência cultural à adoção de soluções mais eficientes no varejo. “Muitos acreditam que perda faz parte e colocam isso no preço. Mas isso não é sustentável, nem economicamente, nem ambientalmente”, alerta.

Ela também acredita que o comportamento do consumidor brasileiro está mudando, impulsionado por preços mais altos e pela escassez de produtos em algumas regiões. “O ambiente força a mudança. Quando os recursos se tornam mais escassos, o mercado se adapta”, conclui.




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