Por: Greissi Tente Giraldi

Em um mundo marcado por mudanças climáticas, conflitos geopolíticos e crescimento populacional acelerado, a segurança alimentar tornou-se um dos temas mais estratégicos do século XXI. Nesse contexto, o Brasil se consolida como um dos protagonistas globais, exercendo papel fundamental na garantia de alimentos para bilhões de pessoas. Com vasto território agricultável, clima favorável e tecnologia de ponta, o país ocupa posição privilegiada na geopolítica da produção e distribuição de alimentos.

O Brasil é hoje o terceiro maior exportador de alimentos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da União Europeia. É líder absoluto em vendas de soja, café, açúcar, carne bovina e de frango. Em 2024, o agronegócio brasileiro foi responsável por mais de 50% das exportações totais do país, gerando superávit comercial e sustentando a economia em meio às incertezas globais. Mas, o papel do Brasil vai além dos números: ele é parte essencial do equilíbrio entre oferta e demanda mundial de alimentos.

A intensificação da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, com a imposição de tarifas elevadas por ambas as potências, tem gerado um reordenamento significativo no comércio global de commodities agrícolas. Nesse cenário, o agronegócio brasileiro se posiciona como um dos principais beneficiários, aproveitando-se da demanda crescente por seus produtos, especialmente soja, carne bovina, frango e algodão.

A China, maior importadora mundial de soja, tem aumentado suas compras do Brasil, substituindo parcialmente as importações dos Estados Unidos, que enfrentam tarifas de 145% impostas por Pequim. No primeiro trimestre de 2025, a China absorveu 17,7 milhões de toneladas das 22,8 milhões exportadas pelo Brasil, indicando uma tendência de substituição da soja norte-americana pela brasileira.

Além disso, a carne bovina brasileira, utilizada na indústria chinesa para processamento, tem visto uma demanda crescente devido à redução das importações dos EUA. Essa mudança oferece uma oportunidade para os frigoríficos brasileiros expandirem sua participação no mercado chinês.

Apesar das oportunidades externas, o aumento das exportações pode reduzir a oferta interna de commodities, elevando os preços no mercado doméstico. A inflação de alimentos, que já acumulou alta de 8% em 2024, preocupa o governo brasileiro, especialmente diante da recente queda de popularidade.

Para que o Brasil maximize os benefícios desse cenário, é essencial adotar estratégias que garantam a sustentabilidade do crescimento. Investimentos em infraestrutura logística, como portos e ferrovias, são fundamentais para atender à demanda crescente sem comprometer o abastecimento interno. Além disso, políticas públicas que incentivem a produção sustentável e a preservação ambiental são cruciais para manter a competitividade do setor no longo prazo.

Em última análise, a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China apresenta uma oportunidade única para o agronegócio brasileiro expandir sua presença no mercado global. Contudo, é elementar o equilíbrio entre os interesses externos e as necessidades internas, garantindo que o crescimento do setor beneficie toda a sociedade brasileira.

*Greissi Tente Giraldi é Engenheira Agrônoma, Doutora em Produção Vegetal e Coordenadora dos Cursos Superiores de Tecnologia em Agricultura e Pecuária da UNINTER

Artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião do Agro e Prosa e de seus editores.