Agro 4.0 transforma produtividade e gestão no campo
O avanço do Agro 4.0 tem transformado a produção rural brasileira com tecnologias que elevam produtividade, reduzem custos e ampliam a sustentabilidade. O tema foi abordado por Rodrigo Cruz, vice-presidente da Keyrus, em entrevista ao Agro e Prosa.
O agronegócio brasileiro vive um processo intenso de digitalização, conhecido como Agro 4.0, que alia inteligência artificial, internet das coisas (IoT) e softwares especializados na gestão de dados. Segundo Rodrigo Cruz, vice-presidente da Keyrus, o conceito deriva da chamada Indústria 4.0 e representa a “revolução do agronegócio através da tecnologia”.
“O Agro 4.0 eleva os níveis do setor ao integrar hardware, software, dados e inteligência artificial de forma prática e acessível”, explicou. Ele observa que, nos últimos anos, mesmo pequenos produtores passaram a adotar soluções digitais, principalmente após a ampliação da conectividade rural promovida por operadoras de telecomunicação e novos sistemas de internet via satélite.
Para Rodrigo Cruz, o Brasil está à frente de mercados como o europeu na adoção de tecnologias agrícolas, em parte porque a agricultura nacional ainda se encontra em expansão. “A tecnologia possibilita que as novas gerações retornem ou permaneçam no campo com uma visão de negócio alinhada ao uso de dados e à sustentabilidade”, disse.
A Keyrus, empresa francesa com três décadas de atuação, está presente em 27 países. No Brasil, a companhia possui sua segunda maior operação global e se especializa no desenvolvimento de ecossistemas de dados e na aplicação de inteligência artificial para apoiar a tomada de decisões de negócios. Cruz esclareceu que o nome da empresa é uma junção da expressão em inglês Key R Us – “a chave somos nós”.
O executivo destacou que o agronegócio sempre operou com grande volume de informações, mas faltava tecnologia para processar dados de forma ágil e assertiva. “A inteligência artificial já vinha sendo utilizada em diferentes áreas, mas agora, com a IA generativa, o poder de decisão aumentou. Essa tecnologia entrega insumos, provoca reflexões e mostra perspectivas que o produtor muitas vezes não percebia”, afirmou.
Entre os exemplos práticos citados está a pulverização localizada por meio de drones e equipamentos que identificam áreas de infestação e aplicam defensivos apenas onde há necessidade. “Essa aplicação quase no nível de pixel resulta em economia de recursos e ganhos ambientais, além de melhorar a rentabilidade”, relatou.
Na gestão administrativa das agroindústrias, a inteligência artificial também tem ampliado eficiência. “Há grupos que precisam gerenciar contratos de centenas de produtores arrendatários, cada um com cláusulas e prazos diferentes. Hoje, algoritmos processam essas informações e respondem aos produtores com rapidez, liberando as equipes para tarefas mais estratégicas”, comentou.
Questionado sobre os desafios de incluir trabalhadores mais experientes, acostumados ao modelo analógico, Cruz avaliou que a tecnologia vem se tornando mais amigável, com interfaces por voz e sistemas que interpretam linguagem natural. “Essa barreira da idade e da familiaridade digital já foi muito mais relevante. Hoje, a tecnologia se adapta ao usuário”, pontuou.
O executivo ressaltou que o próximo passo da digitalização está na popularização dos agentes de inteligência artificial, que, além de responder perguntas, executam tarefas de forma autônoma. “Esses agentes organizam agendas, processam recomendações personalizadas e realizam ações que antes dependiam de muitas pessoas. É uma nova etapa do avanço tecnológico”, explicou.
O tema da conectividade rural foi outro ponto debatido. Embora ainda haja áreas sem cobertura total, ele acredita que os obstáculos foram reduzidos com a chegada de soluções via satélite e com o desenvolvimento de aplicativos que funcionam offline e sincronizam dados posteriormente. “Ainda existe um espaço grande para avançar, mas a falta de sinal já não é a barreira que era no passado”, disse.
Ao projetar os próximos cinco anos, Cruz afirmou que a agricultura deverá incorporar cada vez mais máquinas autônomas, sistemas de tomada de decisão em tempo real e monitoramento inteligente, com impacto direto sobre produtividade e sustentabilidade. “Prever o que vai acontecer em dois anos já é um desafio. O ritmo da inovação é muito rápido”, concluiu.
Rodrigo Cruz, vice-presidente da Keyrus.
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