Amendoim deve alcançar safra recorde de 1,18 milhão de toneladas
Brasil deve colher 1,18 milhão de toneladas de amendoim na safra 2024/25, alta de 60,3% em relação ao ciclo anterior, segundo dados da Conab.

O cultivo de amendoim, antes limitado regionalmente e com menor expressão comercial, tem ganhado força no agronegócio brasileiro. A área plantada, que mais que dobrou na última década, contribuiu para um salto de 239% na produção nacional desde a safra 2014/15, passando de 347 mil toneladas para uma estimativa de 1,18 milhão de toneladas em 2024/25. Segundo a Conab, esse crescimento será impulsionado por um aumento de 9,4% na área cultivada e por uma elevação de 47% na produtividade, após uma safra anterior marcada por perdas.
A expansão é puxada principalmente pelo estado de São Paulo, que responde por 84% da produção nacional. As regiões de Ribeirão Preto, Jaboticabal, Tupã e Marília concentram a maior parte do cultivo, favorecidas por clima adequado, solo fértil e proximidade da indústria de processamento. A rotação com a cana-de-açúcar, aliada à capacidade do amendoim de fixar nitrogênio no solo e auxiliar no controle de nematoides, também tem incentivado o cultivo.
Outros estados começam a ganhar destaque. Em Mato Grosso do Sul, a área plantada praticamente dobrou em um ano, atingindo 42,7 mil hectares. A mudança ocorre em um contexto de preços arrefecidos da soja e de busca por alternativas rentáveis em solos arenosos.
Custo elevado e mecanização específica
Apesar da boa margem observada nos últimos anos, a cultura do amendoim exige atenção aos custos. O investimento por hectare é mais alto do que na soja. Segundo a Conab, os custos com sementes e defensivos representam 69% dos R$ 7.421/ha estimados para a safra atual. As sementes custam o dobro das de soja e requerem maior quantidade por hectare.
Além disso, a mecanização da colheita é particular: os grãos crescem abaixo da superfície, exigindo maquinário específico. O conjunto de equipamentos para colheita pode ultrapassar R$ 1,3 milhão. A operação ocorre em duas etapas — arranquio e enleiramento, seguido de recolhimento das vagens — e precisa ser conduzida com precisão para evitar perdas e contaminação por aflatoxinas.
Exportações em alta, mas com desafios
Com cerca de 77% da produção nacional destinada à exportação, o Brasil tem se consolidado como um dos principais exportadores de amendoim em grão e óleo. Em 2024, o país exportou 227 mil toneladas de grãos, gerando uma receita de US$ 360 milhões. A queda em relação ao ano anterior, de 23,8%, foi causada por problemas climáticos que afetaram a produção em São Paulo.
A expectativa para 2025 é de aumento nos embarques, impulsionado pela safra recorde. No entanto, a boa produção global — com destaque para China, Estados Unidos e Índia — pode pressionar os preços no mercado internacional. A Argentina, maior exportadora para a União Europeia, também ampliou a área plantada e representa concorrência direta.
A Rússia e a Argélia lideram as compras do amendoim brasileiro, com 27% e 18% do volume exportado, respectivamente. Ambos os mercados toleram níveis mais elevados de aflatoxina, fator que limita o acesso à União Europeia, cujo padrão é mais rigoroso, mas que paga prêmios de até US$ 200 por tonelada para produtos dentro das exigências.
Consumo interno e industrialização
O consumo doméstico também tem crescido, mas ainda é baixo em comparação a outros países. Estima-se um consumo per capita de 1,6 kg/ano no Brasil, contra 6,7 kg nos Estados Unidos e 13 kg na China. A maior parte do consumo nacional está ligada a produtos da confeitaria, como paçoca e pé-de-moleque, e ao óleo de amendoim, que tem ganhado espaço em nichos como os de produtos fitness e cosméticos.
O óleo de amendoim representou 22% da receita com exportações do setor em 2024, alcançando US$ 109,9 milhões. O principal destino é a China, que absorveu 50% do volume embarcado. A Holanda e os Estados Unidos também aumentaram as compras, indicando diversificação dos mercados compradores.
Pressão nos preços e renúncia fiscal retomada
O preço médio pago ao produtor caiu 26% em março de 2025 em relação ao mesmo mês de 2024, reflexo do aumento na oferta. A saca de 25 kg foi cotada a R$ 80,8. A rentabilidade, embora superior à da soja, tende a ser pressionada neste ano, principalmente em áreas arrendadas, devido ao elevado custo de produção.
Um ponto de atenção foi a suspensão, em janeiro, do benefício fiscal do ICMS em São Paulo. A medida, vigente desde 1996, concedia crédito fiscal de 10,8% às saídas internas de amendoim. Após mobilização do setor e projeção de perdas estimadas em R$ 300 milhões por ano, o governo estadual renovou o incentivo em fevereiro, evitando uma possível migração de investimentos para estados concorrentes como Mato Grosso, Paraná e Mato Grosso do Sul.
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